A jovem de 17 anos estava acompanhada de três pessoas. Incomum para um ambiente hospitalar que permite somente um acompanhante por paciente. Entrei no quarto e me apresentei. Vi que a garota estava sedada, então perguntei para as pessoas que estavam no quarto se queriam ouvir uma história. Com uma resposta positiva, peguei na minha bolsa o livro “Meu Sonho Não tem Fim”, do autor e amigo meu Alex Cardoso de Melo. Ando com esse livro porque as crônicas sempre tem uma mensagem por atrás da palavras. O que dá um sentido mais especial para o momento da contação da história.
Escolhi uma crônica sobre um rei. No final, percebi que as pessoas ali estavam atentas e refletiam. Aproveitando o interesse, propus uma segunda história que foi aceita. Ao começar a narrativa, percebemos que a adolescente parou de respirar. Um dos parentes tentou chamar pela menina que não respondeu o chamado. Naquele instante, eu compreendi o que estava acontecendo. A hora tinha chegado.
Parecia que a jovem esperava a família ficar entretida para ir. Tenho certeza que, para aquela família, essa história jamais será esquecida. Para a família e para mim. Depois que a equipe médica saiu, ficou a mãe da menina, o tio e eu. Naquele momento senti que deveria permanecer lá e fazer o acolhimento. Não é só ser contador de histórias, é sobre ser humano.
Luciana Bernardo, diretora-executiva de Associação Viver e Deixe Viver.
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