“Quer comprar sorvete?” Perguntou um senhor, já com a aparência cansada, mas com uma voz esperançosa. Debaixo de 35 graus na cidade de São Paulo, dentro de um parque, diferente da maioria, ele não estava ali a passeio, aquela era sua realidade.
Com uma pequena caixa de isopor nos ombros, Seu Domingos não “ganhava a vida”, sobrevivia. Mas, detalhe, aquela pequena caixa não continha só sorvetes, mas o fardo de sua vida. Ele chegou acanhado, querendo vender o sorvete e saiu com um sorriso no rosto, este por sua vez, foi fruto de uma simples pergunta: “O senhor tem uma história para nos contar?”.
"Todo mundo tem uma história para contar”, afirmou ele antes de desabafar com os olhos marejados. Não tem casa, nem família, ao menos é daqui. Há quarenta anos veio de Sergipe “tentar” a vida na cidade grande, porém este sonho logo chegou ao fim. Seu Domingos adoeceu e o pior, às minguas da sociedade.
Sem a ajuda do Estado, ele já chegou a dormir na rua. Os sorvetes lhe garantem noites seguras em albergues e pensões, mas eles não lhe isenta de passar necessidades.
“Se eu ficar na sarjeta, eu morro mais rápido e eu quero viver mais um dia”, com esta fala Seu Domingos implorou por ajuda e nos contou das dificuldades após adoecer. Com mais de dez laudos médicos, o governo lhe nega o direito à aposentadoria, mesmo com seus anos de contribuição.
A sensação de ser enganado a cada vez que vai ao INSS lhe causa tristeza, ele diz sentir a morte chegar mais rápido. Aos seus 65 anos, Seu Domingos não vive, ele sobrevive doente, às margens de um grande parque. Apesar da imensidão de pessoas em dias ensolarados e quentes, ninguém o enxerga. O sorvete ameniza o calor, mas não sua dor.
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